segunda-feira, 23 de julho de 2007

Crônica

Pobre “pátria de chuteiras”


Leandro tem 14 anos e vive em um bairro da periferia de São Paulo. Sua casa é muito simples, o quintal é de “chão batido” e as paredes são de tijolo aparente. Apesar de ser pobre, a família do garoto é grande, são 7 irmãos.
O menino trabalha 8 horas por dia como balconista em um pequeno comércio, para ajudar a mãe. Leandro é moreno e bem magrinho, porque não se alimenta muito bem. Por conta de seu porte físico, é chamado pelos amigos de “pardal”. Ele adora futebol, e apesar da frágil aparência, se sai muito bem quando joga descalço nos campos de terra próximos de sua casa.
O grande sonho de“Pardal” não é ir para a faculdade, ele nem pensa nisso. O raquítico menino quer defender o Brasil em uma copa do mundo, pois orgulho maior, sua mãe não teria.
Romualdo é o grande nome da seleção e defende um tradicional clube espanhol, onde é aclamado por todos como um dos melhores jogadores do mundo. Ele também é craque quando o assunto é dinheiro, já que aparece o tempo todo em propagandas que vendem de desodorante a automóveis. Mas Romualdo já foi pobre um dia. Quando começou a treinar em um pequeno time do Rio de Janeiro, era obrigado a passar debaixo da catraca do ônibus, pois não tinha dinheiro para pagar a passagem. Treinaria com fome, não fosse a solidariedade de um roupeiro do clube, que sempre lhe dava um sanduíche de mortadela.
Mas tudo isso é coisa do passado. Romualdo foi jogar na Europa aos 17 anos, fala francês e espanhol muito bem, possui uma mansão e vários carros de luxo em sua garagem e gosta do clima frio e das mulheres do “velho continente”. A “estrela” da seleção quase não se lembra que nasceu por essas terras ou de sua origem humilde, e veste a “amarelinha” por conveniência, pois com isso pode conseguir uma proposta de trabalho ainda mais vantajosa que a atual, ou garantir outros contratos publicitários.
“Pardal” é fã de Romualdo, tenta imitar seus dribles e trejeitos e, se tivesse dinheiro, com certeza compraria uma camisa do Brasil, estampada com o número 10 e o nome de seu ídolo. Hoje é um dia especial para o garoto; a seleção brasileira tem uma partida decisiva contra a Argentina, seu maior rival no futebol. Quem perder “arruma as malas” e volta para casa.
Começa o jogo, mas há algo errado: o time joga mal, sem a garra e o entusiasmo que o confronto exige, e Romualdo é o mais apático dos jogadores em campo. O “craque” não acerta nem os passes mais simples e quando finaliza, chuta a bola para longe do gol. A Argentina domina todas as ações e vence a partida com tranqüilidade por 3 a 0.
A decepção de “pardal” é imensa, ele não acredita no que viu. Perder é ruim , mas ser derrotado dessa forma é humilhante. Seu ídolo não deu nenhum drible fantástico, não correu e não se esforçou. Era como se não quisesse estar em campo “defendendo o país”. O garoto vai dormir muito triste esta noite, no quarto simples e apertado que divide com seus irmãos.
Enquanto isso, Romualdo promove uma grande festa para seus amigos da seleção em uma danceteria européia, com direito a uísque e belas garotas. O time foi eliminado, mas isso não importa, ele não sabe mais o que é ser um garoto pobre no Brasil.

Artigo

Um País sem voz


O Brasil é um país com muitos problemas, a maioria deles, gravíssimos. A violência, a desigualdade social, o desleixo com a educação, a falta de assistência médica com o mínimo de decência, a exploração do trabalho infantil, a corrupção e outras numerosas mazelas são em grande parte causadas pela falta de seriedade dos políticos que governam esse país. Outro problema, talvez o maior deles, é a falta de consciência política dos brasileiros. As pessoas se indignam com as notícias que chegam de Brasília, mas dentro de suas casas, e a coisa fica por isso mesmo. O governo decide que os impostos que se assemelham aos europeus num país que tem serviços africanos vão aumentar e não há uma única passeata, os parlamentares aumentam seus próprios salários e mantém suas absurdas férias de noventa dias por ano e não há nenhuma manifestação pública à respeito.
Talvez a apatia de nosso povo frente aos problemas nacionais seja uma espécie de herança maldita da Ditadura militar, época em que criticar o poder vigente era fatal e as reivindicações eram sufocadas de maneira truculenta. As pessoas tinham medo de se manifestar numa época em que o lema “ame-o ou deixe-o” era levado a sério e cumprido à risca. Mas hoje o país vive sob a liberdade da democracia, não há motivo para ter medo e, mesmo assim, manifestações públicas legítimas são raras no Brasil, que parece ter um pouco a aprender com a Argentina, onde as passeatas, também conhecidas como “panelaços”, parecem ser bem mais freqüentes. O país vizinho, também passou por um período de ditadura militar, tão ou mais violento que o brasileiro, mas parece ter percebido que aquele momento sombrio já passou e que se direitos não vem sendo respeitados é necessário protestar.
É preciso que no Brasil as pessoas se dêem conta de que a participação pública é a essência do sistema democrático, a única maneira eficiente de lutar por uma melhor educação, por assistência médica de qualidade, pela diminuição da pobreza que é reflexo de uma distribuição de renda absurda, pelo combate à violência cada vez mais presente na sociedade, pela luta contra a corrupção que hoje depende de cpis ineficientes e investigações pouco confiáveis, enfim, é preciso que o povo brasileiro se dê conta de que as coisas não vão mudar enquanto os responsáveis pela administração desse país não tiverem muito com o que se preocupar além de suas contas bancárias. A voz do povo brasileiro precisa ser ouvida.

Esporte

História das Copas

Era para ser um sonho

Uruguai derrota seleção brasileira em pleno Maracanã, calando 200mil pessoas

Em 1950 o país se viu diante de uma oportunidade única de conquistar o maior torneio de futebol do planeta pela primeira vez. Após um intervalo de 12 anos, a Copa do mundo voltou a ser realizada e o escolhido para sediar a competição foi o Brasil, distante da destruição causada pela segunda guerra mundial, que deixou a Europa arruinada.
No dia 25 de Junho a seleção brasileira enfrentou seu primeiro desafio,o México. A equipe verde e amarela arrasou o adversário e venceu o jogo por 4 a 0, começando muito bem sua jornada rumo ao cobiçado título. No dia 28, porém, o Brasil não conseguiu repetir a boa atuação anterior, e apenas empatou em 2 a 2 com a seleção da Suíça no estádio do Pacaembu. Com esse resultado, só a vitória passou a interessar na partida do dia 1º de Julho, diante da Iugoslávia. Os onze jogadores brasileiros não se deixaram abalar e venceram por 2 a 0, garantindo vaga no quadrangular final da competição.
Classificado para a fase decisiva da competição, o Brasil teve como adversários, Suécia, Espanha e os uruguaios, campeões do mundo, mas desacreditados. A “celeste olímpica” teve sorte ao cair em um grupo que contava apenas com a fraquíssima equipe da Bolívia. A vitória por 8 a 0 no Mineirão, garantiu sua classificação à próxima fase, mas isso não aumentou a esperança de sua torcida.
Nem todos contavam com a confiança de seu povo, mas esse não era o caso dos brasileiros, e não havia motivo para ser diferente. Já no primeiro jogo das finais, no Rio de janeiro, uma goleada histórica sobre os Suecos, 7 a 1. No embate seguinte, também no Maracanã, diante de 150 mil espectadores, um novo massacre, 6 a 1 diante dos espanhóis. Os uruguaios empataram com a Espanha em 2 a 2 e venceram os escandinavos por 3 a 2, mantendo assim suas chances de conquistar a Copa.

O pesadelo

A última partida do mundial foi realizada no dia 16 de Julho no Maracanã. 200 mil torcedores eufóricos compareceram ao maior estádio do mundo, com a certeza de que seriam testemunhas de um momento glorioso.
O jogo começou, e o Brasil, que só precisava de um empate, foi para cima do Uruguai, pressionando o adversário durante todo o primeiro tempo. No início do segundo tempo, a seleção abriu o placar com Friaça, passando a falsa impressão de que a derrota estaria distante. Aos 21 minutos da etapa final, Schiaffino empatou para a “celeste” ,e aos 34, Ghiggia conseguiu o que nem os próprios uruguaios imaginavam, vencer o goleiro Barbosa pela segunda vez. O time brasileiro, abatido, não conseguiu reagir, e assim o jogo terminou em 2 a 1 para os vizinhos sul-americanos, que conquistaram o título mundial mais uma vez, diante de uma multidão incrédula.
A tristeza tomou conta do país na página mais triste da história do futebol nacional, que só viria a levantar a taça Jules Rimet em 1958.



Quando os deuses foram injustos

Jogar um grande futebol e não triunfar não foi exclusividade do Brasil de 50. Outras seleções brilharam em campo com jogadas inesquecíveis, mas não conquistaram a Copa do mundo.


A imbatível Hungria

A copa de 50 não foi a única em que uma seleção arrasou seus rivais e encantou fãs de futebol , mas não conquistou o troféu. Em 54, apenas 4 anos depois do “maracanazzo”, a Hungria contava com um retrospecto de 27 partidas sem derrotas e, como se isso não bastasse, havia conquistado a Olímpiada apenas 2 anos antes. Os húngaros passaram com facilidade pela Coréia, e em seguida, por Uruguai e Brasil, campeão e vice da última edição da Copa. Na final do torneio, enfrentaram a Alemanha, derrotada na primeira fase por 8 a 3, e inexplicavelmente, perderam por 3 a 2 para os alemães, claramente inferiores, mas taticamente esforçados.
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A “laranja mecânica”

Em 74, a Holanda do técnico Rinus Michels e de Johan Cruyff, um dos maiores jogadores de todos os tempos, maravilhou o mundo e tornou-se conhecida como “laranja mecânica” e “carrossel holandês”, devido ao sistema tático revolucionário em que os jogadores não tinham posição fixa. Os holandeses bateram Uruguai, Argentina e Brasil, que 4 anos antes havia conquistado o tricampeonato no México. A grande final foi disputada com a Alemanha, anfitriã do torneio naquele ano. Os alemães, mais uma vez, venceram a sensação da Copa, e conquistaram o título pela segunda vez.

“Futebol arte”

Na Espanha, em 1982, ninguém duvidava da vitória brasileira. Com craques como Zico, Junior, Sócrates e Falcão e sob o comando de Telê Santana, a seleção “canarinho” encheu os gramados espanhóis de alegria, arrebatando fanáticos pelo esporte em todo o mundo. O Brasil, com um toque de bola belíssimo, derrotou entre outros adversários a União Soviética e a Argentina, que já contava com Diego Armando Maradona, para muitos, o maior jogador de todos os tempos. O esquadrão brasileiro só precisava de um empate para garantir a classificação para a próxima fase diante da Itália, mas acabou perdendo por 3 a 2, com 3 gols de Paolo Rossi, dando adeus às chances de conquistar o tetracampeonato mundial de futebol. Os italianos foram campeões, após vencerem a Alemanha na final por 3 a 1.